segunda-feira, 28 de maio de 2012

Não se leve tão a sério

Ela se redigia, sempre se incluia em palavras desajeitadas. Estava sempre em meio aos desajeitos.
Não gostava de muitas coisas que guardava pra si. Nem tudo há de ser compartilhado.. com o passar do tempo, foi o que aprendera.
Se encontrava desajeitada em meio a certas futilidades, não tinha paciencia.. talvez faltasse um pouco de humor refinado. Daqueles fingidos, beeem fingidos por quem não acha a mínima lógica em tanta embecilidade.
Era desajeitada quanto a isso, porque via sempre que outros achavam graça, sempre tinha alguem que achasse 'bonitinho', achavam-se até atraídos. Mas realmente não compreendia.
"Acho que pra sorrir, tem que ser com vontade. Pra gargalhar, tem que haver ímpeto na gargalhada." Talvez por isso o ar debochado.
Gostava de gozar dos prazeres reais. Aqueles vistos, sentidos, sussurados de maneira feroz. Inegáveis.
Ela sabia onde encontra-los. Por isso só ficava sem quando preciso.
Ela não era santa. Nunca foi. Achava catastrófico que pensassem isso... Afinal, que mulher que se preze é santa?! Mulher tem de ser mulher de verdade: Inteira, de pé, na cama, no chão, em postura, sensual em detalhes, de muitos olhares, de muitos apelos, dos muitos olhares, de muitos apertos, de intimidades, de seios, de desejos, de meia luz, de luz inteira.
... Achava que uma boa mulher, deveria por natureza nascer inteligente.
A moça brincava de ser e não ser, enquanto a muitos tentava entender.
...

Apenas pensando, sem levar tão a sério assim... ela sempre encontrou-se feliz.

quarta-feira, 23 de maio de 2012

A História de Fernão Capelo Gaivota


[...]
Uma gaivota nunca contesta o conselho do bando, mas a voz de Fernão ergueu-se gritando:
_ Irresponsabilidade? Meus irmãos! Quem é mais responsável do que uma gaivota que descobre e desenvolve um significado, um propósito mais elevado na vida? Passamos mil anos lutando por cabeças de peixe, mas agora temos uma razão para viver, para aprender, para descobrir, para sermos livres!

...

Fernão Gaivota passou o resto dos seus dias sozinho, mas voou muito além dos Penhascos Longínquos. A solidão não o entristecia. Entristecia-o que as outras gaivotas se tivessem recusado a acreditar na glória do vôo que as esperava. Recusaram-se a abrir os olhos e a ver.
Aprendia cada vez mais. Aprendeu que um eficiente mergulho a grande velocidade lhe dava o peixe raro e saboroso que viviatrês metros abaixo da superfície do mar. Já não precisava de barcos de pesca nem de pão duro para viver. Aprendeu a dormir no ar, estabelecendo um percurso noturno pelo vento largo, cobrindo cento e cinquenta quilômetros desde o acaso até a aurora. Utilizando o mesmo controle interior, voou atravéz de nevoeiros cerrados e subiu acima deles para céus estonteantes de claridade... enquanto qualquer outra gaivota ficava em terra, conhecendo apenas a neblina e chuva. Aprendeu a dominar os altos ventos do continente e a jantar ali os delicados insetos.
O que outrora desejara para o bando tinha-o agora só para si. Aprendera a voar e não lamentava o preço que pagara por isso. Fernão Gaivota descobriu que o tédio, o medo e a ira são razões por que a vida de uma gaivota é tão curta e, sem isso a perturbar-lhe o pensamento, viveu de fato uma vida longa e feliz.
[...]

(Lembrando que a felicidade é apenas um estado de espírito.)
Trechos da primeira parte de um lindo livro dos anos 70, que um dia me falou sobre liberdade.

terça-feira, 22 de maio de 2012

Ordenada pelo Tempo

O queixo erguido é singular.
Trama traçada por artimanhas
A mesma cama de todas as manhas.
Nada muda!
Só mudam as vias contornadas
Mudam-se apenas as palavras usadas.
Em consenso, apenas apelos mesmo.
Emudecidos
Mudados
Pouco dados.

quarta-feira, 16 de maio de 2012

Ela gostava de músicas antigas
Do cheiro da chuva durante a madrugada...
Gostava de lembrar dos cheiros apresentados pela vida.
Gostava de ser lembrada com doçura
...E ousava no bem querer, fazia disso sua arte.
Gostava de brincar com botões coloridos.
Gostava de não ligar muito pra pontuações, enquanto escrevia degustando xícaras e mais xícaras de café.
Gostava de não pensar muito no amanhã e se afundar em momentos presentes.
Sempre perdia a hora!
Tinha uma dislexia voluntária que achava o máximo.
Gostava de umas roupas de velhos.
Achava lindo o seu jardim. Por isso até plantou rosas novas.
Ela gostava de passar horas com seus gatos, enquanto sentia saudades daqueles que ama.
Adorava palavras céticas, o otimismo a irritava vez em sempre;
Gostava tanto de duvidar do óbvio...






quinta-feira, 10 de maio de 2012

Em comemoração à minha desnatureza

Não falo mais de amor!
Me lixo pro tal ardor.

Mas vou falar de amor pra quê?
Ouvir musiquinhas babacas pra quê?
Escrever inutilidades sentimentais pra quê?
Fingir que sou uma pessoa emocionalmente afetável pra quê?
Me remoer em palavras chichês e apelações pra que mais?
Pra quê? Pra quê??
Nem sou tão passiva de sentimentos assim.

Sou interessante, do tipo que não tem pudor. Fria, frígida, fingida, calculista, fútil. Aquela que sai por aí pensando no proximo número pra coleção. Porque afinal de contas, sou irresistível. E minhas roupas e músicas estão aí pra desmonstrar isso.













Mentira.


(Até me orgulho de ser um alien detestável. rs)

segunda-feira, 7 de maio de 2012

Como dizia o poeta...

"Como dizia o poeta
Quem já passou por essa vida e não viveu
Pode ser mais, mas sabe menos do que eu
Porque a vida só se dá pra quem se deu
Pra quem amou, pra quem chorou, pra quem sofreu
Ah, quem nunca curtiu uma paixão nunca vai ter nada, não
Não há mal pior do que a descrença
Mesmo o amor que não compensa é melhor que a solidão
Abre os teus braços, meu irmão, deixa cair
Pra que somar se a gente pode dividir
Eu francamente já não quero nem saber
De quem não vai porque tem medo de sofrer
Ai de quem não rasga o coração, esse não vai ter perdão
Quem nunca curtiu uma paixão, nunca vai ter nada, não."

Vinicius de Moraes